A conversão dos povos das novas
terras encontradas fazia parte do extenso leque de objetivos almejados com as
Grandes Navegações no final do século 15 e início do 16. Neste objetivo em
especial, a Igreja Católica portuguesa e espanhola pega uma “ponga” e ver nesta
“aventura do além mar”, uma excelente oportunidade de expandir a fé cristã e
consequentemente aumentar o número de fiéis. Falando dessa forma, parece que
este é o único dos objetivos atribuídos às Navegações, que não possui a
finalidade econômica. Se pensarmos bem, com a conversão de novos milhares de
fiéis, a arrecadação também aumentaria com os impostos doutrinais comumente
cobrados, como por exemplo, o dízimo e a oferta.
A tela “Primeira missa no
Brasil”, produzida em 1860, por Victor
Meirelles é uma importante fonte histórica que nos fornece
informações merecedoras de algumas boas reflexões. Mesmo produzida há mais
de três séculos do fato ocorrido, a tela de Meirelles reconstitui com maestria,
no imaginário dos brasileiros, como teria sido este momento histórico.
Se formos além da beleza e
da perfeição dos traços artísticos, das cores e das técnicas de pintura,
esbarraremos em elementos simbólicos que compõem a cena e que estão devidamente
carregados, culturalmente falando.
Sendo assim, vamos a análise de
cada um destes elementos:
O primeiro deles está no fato dos
portugueses estarem todos posicionados ao lado direito da tela, ao lado do mar.
Esta representação não nos aponta somente ao fato de que, quem chega são
os portugueses, mas sim, que ao chegarem, conquistam. A posição destes na tela,
clarifica em nós a impressão de invasão, mesmo com a ausência de atos violentos
(trata-se de uma invasão cultural).
E se por um lado os portugueses
estão reunidos à direita da cena, os nativos encontram-se do lado esquerdo,
simbolizando o desencontro de dois mundos culturais completamente
antagônicos. Mas o que chama a atenção é o fato de na cena só apresentar
elementos culturais, neste caso o religioso, do homem branco, remetendo-nos a
enfadonha visão de que os nativos não possuíam religião ou que aquilo que
chamavam de religião, não deveria ser considerado como tal.
A cruz, sem sombra de dúvidas, é
o elemento central da tela, nela está contida a ideologia cristã e o fato de
está acima de todos, pode ser interpretado pela afirmação de que o cristianismo
é a religião que deve ser seguida agora pelos nativos, ou seja, a cruz e a
realização da missa em si, é um gesto de imposição cultural.
Mais um aspecto que nos chama a
atenção é a postura dos nativos que assistem a celebração, esta não chega a ser
de reverência, mas de curiosidade e aceitação, o que não retrata a verdade do
conturbado processo de “imposição” e não de “conversão” religiosa que se deu
entre portugueses e nativos.
A desvalorização da cultura indígena impregnada na
tela de Meirelles, é digamos que, suavizada, se a compararmos com a tela
produzida em 1948, por Candido Portinari que
também procurava ilustrar a mesma temática: "A Primeira missa no
Brasil."
Observe bem a tela de Portinari:
Percebam como é inexistente qualquer aspecto que nos remeta ao nativismo brasileiro, ou seja, esta concepção de Portinari não desvaloriza a cultura indígena, mas a exclui completamente do evento histórico em si.
Sendo assim, dentre os vários questionamentos que a
análise destas telas em sala de aula podem gerar, também cabe ai, uma reflexão
acerca da mentalidade e/ou da concepção de nação que estes artistas e parte da
população em si, tinham na época das suas devidas produções.
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